Luciano Goes: “O índice de perdas de água da Deso é de 48%. Nossa intenção é chegar de 30% a 35% até 2026”

Luciano Goes: “O índice de perdas de água da Deso é de 48%. Nossa intenção é chegar de 30% a 35% até 2026”

Ajustar mais e mais o foco de atuação da Deso, corrigir as perdas de sua água tratada – hoje ainda consideradas altas -, fazê-la mais moderna e prestadora de bons serviços aos sergipanos, sem qualquer orientação de trabalhar por sua privatização, mas sem preconceitos na relação com as Parcerias Público-Privadas.

Este é o desafio projetado para si mesmo e para sua equipe pelo administrador de Empresas Luciano Goes, 41 anos, na Presidência da Companhia de Saneamento do Estado de Sergipe – Deso – desde o começo deste ano. E não se trata de pouca coisa.

A começar pelo tamanho da máquina que Luciano Goes comanda e da significação dela diante de um produto essencialíssimo como a água e o consequente tratamento de esgotos sanitários para a quase totalidade dos 75 munícipios de Sergipe. Ou seja, a Deso é uma companhia que está presente na vida de quase dois milhões dos 2,3 milhões de sergipanos.

Mas Luciano Goes parece destemido diante dos desafios, dos obstáculos e sobretudo dos objetivos dessa empresa e da sua nova gestão. Aliás, ele é pragmático e revela conhecimento e planejamento firmes diante do que tem em mãos e do que pretende fazer sob a orientação do governador Fábio Mitidieri.

“Temos como foco principal implantar na Deso um modelo de gestão por resultado, com revisão dos objetivos estratégicos da companhia e a elaboração de metas e planos de ações de curtíssimo, curto e médio prazo”, prefixa Luciano, logo de largada.

“Nos últimos 10 anos, a Deso investiu mais de R$ 1 bilhão em obras de abastecimento de água e esgotamento sanitário, sendo grande parte desses investimentos em obras de reforma e ampliação. Atualmente temos mais de R$ 300 milhões de recursos garantidos através de convênios com o Ministério de Desenvolvimento Regional e financiamento junto ao Banco do Nordeste para implantação e ampliação de sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário por todo o Estado”, completa ele.

Além do mais, a Deso tem vigor de retorno no que faz, como deveria acontecer com toda empresa pública. “A arrecadação prevista com as tarifas de água e esgoto para 2023 é de R$ 815 milhões, sendo R$ 775 milhões destinados aos custos com pessoal, energia elétrica, serviços de terceiros e produtos químicos, impostos e financiamentos, e R$ 40 milhões para investimentos com recursos próprios mais urgentes”, afirma Luciano.

Nesta Entrevista Domingueira, Luciano Goes apresenta aos sergipanos uma radiografia completa desta Companhia, do modo como pretende geri-la e do que os usuários podem esperar dele e da sua equipe como contrapartida.

Luciano Goes Paul nasceu no dia 26 de junho de 1981 em Aracaju. Ele é filho de Marcus Paul, já falecido, e de Iara Fontes de Goes. É casado com a advogada Maria Agda Barreto Queiroz e é pai de Giovanna Goes Paul.

Luciano Goes fez Administração de Empresas por uma universidade sergipana com conclusão em 2007 e tem pós-graduação em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas desde 2014.

Luciano Goes em solenidade com o ministro do Desenvolvimento Regional, na entrega da Adutora Piauitinga 2

Profissionalmente, tem experiência em empresas particulares – foi gerente Industrial do Grupo Maratá, diretor Industrial do Grupo Dias D’Ávila e foi diretor de Serviços do Tribunal de Contas do Estado de Sergipe e dirigente federal do DNOCS em Sergipe.

“Me sinto honrado em fazer parte desse time forte montado pelo governador Fábio Mitidieri, que tem a missão de consolidar os avanços alcançados e de fazer mais. De dar as respostas que a sociedade deseja para os grandes desafios em todos os campos”. diz.

Luciano Goes é gestor de teoria e de prática: inspecionando instalação de poço artesiano no interior de Sergipe

JLPolítica & Negócio – Com qual foco de planejamento o senhor pretende fazer a gestão da Deso?
Luciano Goes – Temos como foco principal implantar na Deso um modelo de gestão por resultado, com revisão dos objetivos estratégicos da companhia e a elaboração de metas e planos de ações de curtíssimo, curto e médio prazo.

JLPolítica & Negócio – O que está previsto para cada fase?
LG – No curtíssimo prazo, temos como foco reduzir drasticamente a descontinuidade no abastecimento de água no interior do Estado, através de regularização de ligações clandestinas, construção de reservatórios, ampliações de redes de distribuição e substituição de bombas hidráulicas obsoletas. No curto prazo, pretendemos melhorar a satisfação dos nossos clientes, com ampliação dos canais de atendimento e redução dos prazos de serviços como ligações, religações e correções de vazamentos. Por fim, no médio prazo avançaremos na redução dos custos operacionais e na universalização do acesso à água e ao esgotamento, com estímulo ao aumento da produtividade dos nossos colaboradores, adoção de indicadores de desempenho nos nossos serviços terceirizados, automação para gestão e redução de perdas de água, aumento da eficiência energética e ampliação da captação de recursos a não-onerosos e subsidiados.

DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

“Hoje atendemos aproximadamente 1,9 milhão de pessoas físicas e 29 mil pessoas jurídicas em todo o Estado. Temos como foco principal implantar na Deso um modelo de gestão por resultado, com revisão dos objetivos estratégicos da companhia e a elaboração de metas e planos de ações de curtíssimo, curto e médio prazo”

JLPolítica & Negócio – Quantos consumidores a Deso atende hoje, entre pessoas físicas e jurídicas?
LG – Hoje atendemos aproximadamente 1,9 milhão de pessoas físicas e 29 mil pessoas jurídicas em todo o Estado. O restante da população está distribuída em municípios e localidades que não são abastecidas pela Deso, como Estância, Carmópolis, Capela, a sede de São Cristóvão e alguns povoados atendidos pelas próprias prefeituras.

JLPolítica & Negócio – Há espaço para crescimento das ações da Deso no corpo de Sergipe? Para chegar a mais comunidades rurais, por exemplo?
LG – Em parte. Atualmente as comunidades rurais onde a Deso não atua são pouquíssimas e dispersas. O grande problema é a descontinuidade do abastecimento, que decorre principalmente das ligações clandestinas nas adutoras que atendem estas pequenas localidades. Mas entendemos que há possibilidade de ampliarmos nosso mercado e avançarmos em outros negócios relacionados ao saneamento, como, por exemplo, no tratamento de resíduos sólidos, o que já ocorre em outras companhias de saneamento, como a Sanepar, no Paraná

Luciano Goes no conforto dos seus: com a esposa Maria Agda Barreto Queiroz e a filhota Giovanna Goes Paul

JLPolítica & Negócio – Qual é o índice de perda de água tratada da companhia hoje e qual é o patamar tolerável possível?
LG – O índice de perdas de água da Deso hoje é de 48%. Em Aracaju, onde possuímos um bom modelo, já avançamos bastante na gestão de perdas, este percentual é de 30%. Nas empresas de referência no país, como Sabesp, em São Paulo, e Sanepar, no Paraná, este percentual é de aproximadamente 35%.

JLPolítica & Negócio – Por onde essas perdas mais se manifestam ?
LG – No caso específico da Deso, a maior parcela dessas perdas é decorrente de furto de água, que ocorrem principalmente no alto sertão sergipano através de ligações clandestinas nas adutoras que atravessam pequenas e grandes propriedades rurais. Nesse sentido, entendo que é necessária uma fiscalização sistemática e periódica envolvendo Deso, Ministério Público e Secretaria de Segurança Pública para coibir essas ações.

AÇÃO PARA REDUÇÃO DAS PERDAS DE ÁGUA

“O índice de perdas de água da Deso hoje é de 48%. Em Aracaju, onde possuímos um bom modelo, já avançamos bastante na gestão de perdas, este percentual é de 30%. Nas empresas de referência no país, como Sabesp, em São Paulo, e Sanepar, no Paraná, este percentual é de aproximadamente 35%”

Luciano Goes, com Fábio Mitidieri e a primeira-dama Érica Mitidieri: “Me sinto honrado em fazer parte desse time forte montado pelo governador”

JLPolítica & Negócio – Há um projeto específico para combater esses furtos? O que a gestão do senhor fará para chegar a estes índices de São Paulo e Paraná, ou até superá-los?
LG – Publicamos no mês passado uma licitação para contratação de obras e serviços para redução de perdas através de acordo de performance nos municípios de Lagarto e Simão Dias e, ainda em março, devemos lançar outro contrato semelhante para a Grande Aracaju. Nesse tipo de contrato a empresa realiza os investimentos necessários para redução das perdas, sendo a remuneração vinculada a essa redução e, consequentemente, a economia com energia elétrica e produtos químicos. A nossa intenção é ampliar essa modalidade de contratação para todo o Estado em 2023 e 2024, visando atingir um índice de perdas aceitável, que seria de 30% a 35% até 2026.

JLPolítica & Negócio – Como é que estão os investimentos do Governo do Estado na Companhia?
LG – Atualmente temos mais de R$ 300 milhões de recursos garantidos através de convênios com o Ministério de Desenvolvimento Regional e financiamento junto ao Banco do Nordeste para implantação e ampliação de sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário por todo o Estado. Além disso, temos uma carta-consulta aprovada pelo Banco do Nordeste para captação de mais R$ 280 milhões. Com relação a esses investimentos financiados junto ao BNB, são recursos captados pela própria companhia, sem necessidade de contrapartida do Estado.

Luciano Goes, a esposa Maria Agda Barreto Queiroz, Gustinho Ribeiro e a esposa Hilda Ribeiro: dia de diplomação

JLPolítica & Negócio – Mas pretende ampliar essas buscas?
LG – Sim. O que pretendemos na nossa gestão é ampliar essa captação de recursos junto a outros organismos de financiamento, como Banco Mundial, Novo Banco de Desenvolvimento e Agência de Cooperação do Japão, visando garantir a universalização do saneamento em Sergipe até 2033.

JLPolítica & Negócio – Qual é a tradução literal de uma boa universalização do saneamento?
LG – É garantir que o acesso à água potável e ao esgotamento sanitário se dê por toda a população do Estado, visando a melhoria da qualidade de vida dos sergipanos e garanta a preservação do meio ambiente, com uma tarifa justa e dentro da realidade econômica de cada família.

MAIS DE R$ 300 MILHÕES DE RECURSOS GARANTIDOS

“Atualmente temos mais de R$ 300 milhões de recursos garantidos através de convênios com o Ministério de Desenvolvimento Regional e financiamento junto ao Banco do Nordeste para implantação e ampliação de sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário por todo o Estado”

Luciano Goes, Maria Agda, o tio Roberto Goes, ex-prefeito de Riachão e o senador Laércio Oliveira: marcas da campanha

JLPolítica & Negócio – Haveria alguma PPP vistosa em curso ou sendo analisada?
LG – O Modelo está sendo analisado pelo BNDES, junto com o Governo do Estado de Sergipe.

JLPolítica & Negócio – Qual é a área ou o setor mais crítico do Deso atualmente e que precisa de uma ação urgente na esfera da Deso?
LG – Hoje o grande problema da Deso é a descontinuidade no abastecimento em alguns municípios do interior, principalmente no sertão. Como grande parte do Estado está localizado no semiárido e mais de 70% da população depende da transposição de água do rio São Francisco através de sistemas adutores, parte dessa água é furtada nas travessias de propriedades rurais, prejudicando a chegada dela nos municípios localizados nos trechos finais das adutoras, que recebem água por último, como Frei Paulo e Pinhão, por exemplo.

O presidente Luciano Goes e o deputado Gustinho Ribeiro, bem à paisana, inspecionado obras da Deso

JLPolítica & Negócio – Qual é a dotação orçamentária da companhia para 2023 e isso dá para quê, diante das necessidades dela?
LG – A arrecadação prevista com as tarifas de água e esgoto para 2023 é de R$ 815 milhões, sendo R$ 775 milhões destinados aos custos com pessoal, energia elétrica, serviços de terceiros e produtos químicos, impostos e financiamentos, e R$ 40 milhões para investimentos com recursos próprios mais urgentes, como construção e reforma de reservatórios e ampliações de redes de água. Esse valor é suficiente para prestação dos nossos serviços, sem necessidade de repasse de recursos pelo Governo do Estado e sem onerar à população com tarifas elevadas.

JLPolítica & Negócio – Como está a Companhia, do ponto de vista de servidores e mão de obra?
LG – A Deso possui cerca de 1.500 empregados no seu quadro permanente, sendo mais de 70% destes contratados nos concursos de 2003 e 2013.

OS DANOS CAUSADOS PELO FURTO NA ZONA RURAL

“Hoje o grande problema da Deso é a descontinuidade no abastecimento em alguns municípios, principalmente no sertão. Como grande parte do Estado está localizado no semiárido e mais de 70% da população depende da transposição de água do rio São Francisco através de sistemas adutores, parte dessa água é furtada nas travessias de propriedades rurais”

Luciano Goes em colóquio com o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin

JLPolítica & Negócio – E de equipamentos, ela vai bem ou tem muito sucateamento?
LG – Nos últimos 10 anos, a Deso investiu mais de R$ 1 bilhão em obras de abastecimento de água e esgotamento sanitário, sendo grande parte desses investimentos em obras de reforma e ampliação, como por exemplo as Estações de Tratamento de Água de Aracaju – ETA João Ednaldo -, de Lagarto – ETA Piauitinga – e Itabaiana – ETA Agreste. Além disso, estamos licitando este ano mais de R$ 7 milhões em obras de reforma de reservatórios por todo o Estado e acabamos de contratar através de contrato de performance a substituição das bombas da Adutora do São Francisco, principal sistema do Estado, com um investimento de mais de R$ 20 milhões. Então, no geral, não há sucateamento. Mas há, sim, algumas localidades menores onde pretendemos avançar com a política de reposição de ativos, principalmente no interior do Estado.

JLPolítica & Negócio – Ao lhe convidar para a Presidência, o governador Fábio Mitidieri acenou em direção à privatização?
LG – O governador Fábio Mitidieri não acenou para privatização e sim para o compromisso com a melhoria na prestação do serviço, com plena satisfação da população sergipana. Hoje, diversos serviços na companhia já contam com a participação da iniciativa privada, como obras e projetos de engenharia, vigilância e limpeza, leitura, ligações e cortes, atendimento, manutenção de redes, etc.

Luciano Goes promete luta para combater a perda d’água e colocar a Deso em índices razoáveis nesta área

JLPolítica & Negócio – Está tudo resolvido com a Adutora Piauitinga, que parte de Estância para atender Salgado, Lagarto, Riachão e Simão Dias?
LG – A ampliação e duplicação da Adutora do Piauitinga foi concluída no final de 2022, com um investimento total de R$ 82 milhões. Entretanto, atualmente estamos em fase de pré-operação, com correções de alguns vazamentos e ajustes na automação, o que é natural em uma obra desse porte. Em 2023, o nosso objetivo é captar recursos para execução da segunda etapa desta ampliação, que beneficiará os municípios de Boquim e Pedrinhas, incluindo diversos povoados.

JLPolítica & Negócio – Como administrador de Empresas por formação acadêmica, o que o senhor traz de experiência para a Deso vem mais do setor público ou do particular por onde passou?
LG – Vem de ambos. Enquanto na iniciativa particular o viés principal é o estímulo à produtividade e a eficiência, com foco na sustentabilidade econômica, no setor público a diretriz é a promoção da redução das desigualdade sociais e melhoria na qualidade de vida, com foco na sustentabilidade socioambiental. Acredito que a união dessas duas perspectivas podem contribuir para melhoria na prestação dos serviços da Deso.

DAS RECEITAS E DESPESAS DA DESO

“A arrecadação prevista com as tarifas de água e esgoto para 2023 é de R$ 815 milhões, sendo R$ 775 milhões destinados aos custos com pessoal, energia elétrica, serviços de terceiros e produtos químicos, impostos e financiamentos, e R$ 40 milhões para investimentos com recursos próprios mais urgentes”

Luciano Goes vendo de perto operações da Deso no interior do município de Lagarto

JLPolítica & Negócio – Afinal, a propósito do convite para a Presidência, o senhor se sente um convidado do governador Fábio Mitidieri ou do deputado federal Gustinho Ribeiro?
LG – Agradeço ao deputado Gustinho Ribeiro pela indicação e ao governador Fábio Mitidieri pelo convite e pela confiança em mim depositada. Me sinto honrado em fazer parte desse time forte montado pelo governador, que tem a missão de consolidar os avanços alcançados e de fazer mais. De dar as respostas que a sociedade deseja para os grandes desafios em todos os campos.

Para Luciano Goes, o posto que ocupa exige interlocuções nas altas esferas da política. Aqui, com o deputado federal e presidente da Câmara Arthur Lira

*Entrevista publicada originalmente pelo Jornalista Jozailto Lima, Portal JL Política.

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